sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A arte da vida



Filhota, algumas vezes a arte imita a vida e outras vezes a vida imita a arte em várias situacoes de vida.
Por vários meses assisti a várias cenas inesperadas na nossa vida, compartilhei sentimentos, sorrindo, chorando e muitas vezes caindo num silêncio profundo esperando a banda passar para me tirar da inércia. Nos nossos momentos de silêncio imaginava como atuaríamos quando as cortinas da vida se abrissem para nós. 


 
Gosto de conversas diretas, de perguntas diretas e respostas diretas... sonhava que o ideal seria não precisarmos de explicacoes, mas na ausência desta cena, sonhava que o mundo me perguntasse se você tinha Trissomia21 ao invés de deixar a pergunta no ar e de tratar você diferentemente, estranhamente ... ainda imagino rejeicão e discriminacão, mas essas cenas ainda não têm um desfecho.



Mesmo com poucos ensaios desta nova vida, me mostrei para o público: fui ao teatro. Assisti a uma peca chamada "A árvore seca" , a sertaneja contava em cordel os desgostos de ser infértil e a jornada para que seu filho nascesse de outro ventre. A história era intercalada com narrativas de outra jornada de vida e morte, a da família da própria atriz, Ester Laccava. Com o nascimento no Sertão da crianca que tinha algo estranho, os sentimentos já não tão estranhos a mim comecaram a aflorar.... faltava ar e meu coracao batia no rítmo das lágrimas que já caíam antes da palavra retardado chegar. Tínhamos mais uma história entrando em cena....a personagem era eu mesma, sua mãe, que jogou o script pro ar e deixou se tocar. O ensaio não valeu de nada...".E agora?" Aceitei que a vida é a arte de imporvisar, mais uma vez nada está totalmente no meu controle. Tentei conter toda essa emocão em público, tentei me acalmar, era apenas uma peca....mas sempre soube que a arte imita a vida.







Em uma outra peca da vida, a cena de abertura seguiu o roteiro: a pessoa foi direta: " Sua filha tem Síndrome de Down, né?", e eu respondi: "Sim." E ela intimamente orgulhosa em ter dado o diagnóstico correto acrescentou com pesar: "É, minha amiga tem uma crianca assim". E eu sorri, deixando ela passar enquanto falava a mim mesma: "Aconteceu o que você pediu"
Tudo seguiu um roteiro mal escrito, aceitaria o amadorismo se não fosse pela cara de pena dela que levou a um incômodo na minha alma. Estávamos brincando e sorrindo no espelho do banheiro de um restaurante e alguém nos interrompe com o exame de cariótipo de novo? Florzinha, ainda sinto tudo à flor da pele, há 15 post atrás aceitei minhas fraquezas e me permito abrir meu coracao e escrever intensamente cada palavra como se fosse um grito.....Nao senti raiva, me senti invadida. Mais tarde entendi que não foi a pergunta que me incomodou, foi o pesar.




Foi com esse sentimento no peito que li sobre duas histórias de vida, verdadeiras obras de arte. Emmanuel Joseph Bishop, nasceu com Trissomia21 (e daí?!) toca violino e fala 4 línguas: inglês, espanhol, francês e latim. Já a Tathiana Piancastelli também nasceu com um cromossomo a mais, sempre gostou de teatro, de repente decidiu escrever uma peca e foi em busca do seu sonho em plena Nova Iorque! Além de escritora e atriz, ela tem um programa na tv. De repente minha vontade de mudar o mundo, de torná-lo inclusivo, sem preconceitos, rótulos e definicoes, pareceu mais real e divertida. De repente o pesar foi sufocado pelo sonho, garra, ousadia e alegria. De repente, eu pude imaginar um final cheio de glamour e escutar os aplausos.


São essas referências que você terá em sua vida, e o ciclo da vida seguirá tornando você também uma referência de vida....afinal, é Natal, a gente continua batalhando dia-a-dia e eu acredito em Papai Noel.




Links:
A Árvore Seca
Tathiana Piancastelli - Apple of my eyes
Emmanuel Joseph Bishop